Texto: Linéia Rodrigues
Desde de 2020, a Covid-19 afetou diferentes pessoas de diferentes maneiras em todo o mundo. A população adquiriu novos hábitos de alimentação, higiene, consumo, conectividade, entre outros. Com a permanência em casa, novos estímulos e formas de entretenimento ganharam espaço como, por exemplo, assinatura de plataformas de streaming e acompanhamento assíduo de redes sociais.
O escapismo tornou o Big Brother Brasil uma potência e ampliou sua relevância, em 2021. No mesmo ano, o maior reality show do país trouxe à tona a discussão sobre a rejeição online. Embora o termo “cultura do cancelamento” tenha sido eleito, em 2019, o termo do ano pelo Dicionário Macquarie, o BBB 21, com números jamais vistos em 20 anos de exibição, encabeçou a discussão sobre o tema, especialmente com a participação tumultuada da cantora Karol Conká.
A rejeição histórica de Conká, eliminada com 99,17% dos votos, revela uma necessidade de validação de ações e atitudes de pessoas e marcas. Aparentemente, qualquer postura considerada imoral, preconceituosa ou discriminatória, inoportuna e antiética pode ser digna e passível de cancelamento. O julgamento público é uma resposta imediata para o comportamento que é considerado “cancelável” pelo público. Do “tribunal da internet” poucos escapam. As condenações crescem à medida que os grupos vêem na ação uma forma de romper a estrutura de poder e fazer pressão para o incorporamento de comportamentos políticos mais justos e aceitáveis pelas marcas e figuras públicas.
Embora seja a forma encontrada pelo mundo virtual para repreender comportamentos inaceitáveis, o cancelamento traz consequências incalculáveis para o protagonista da situação. Esforços devem ser empenhados, seja pelo Poder Público, seja pelo desenvolvimento de recursos pelas próprias redes sociais, para mitigar e desincentivar a prática contemporânea e garantir a cidadania para todos, inclusive dos que erram. O diálogo ainda continua sendo o melhor caminho para resolver as divergências, afinal, na internet, a volatilidade é certa e o surgimento de novas personalidades e atitudes para cancelar, também.
